segunda-feira, 16 de junho de 2008

Transplante Continuação - Transplante de Rim


Boa tarde Pessoal, como vocês estão? Espero que bem, porque eu estou muito bem, levando a vida numa boa.

Pessoal, como já tinha falado para vocês, vou dar continuação no assunto referente a doação de órgãos, que é muito importante, acho que todos nós devemos refletir sobre o assunto.

Então segue a segunda parte, e a terceira e última logo mais, onde vou falar um pouco de meus amigos que estão passando por essa situação tão delicada.

Logo, é aniversário do meu irmão, quero já deixar registrado os meus parabéns a ele, amo vocês e tenham uma linda semana....

TRANSPLANTE DE RIM

Para as pessoas cujos rins deixaram de funcionar, o transplante é uma alternativa à diálise que lhes pode salvar a vida e que além disso tem sido efetuado com êxito em pessoas de todas as idades. Cerca de 90 % dos rins provenientes de doadores vivos funciona bem um ano depois de terem sido transplantados. Durante cada um dos anos seguintes, de 3 % a 5 % desses rins entra em falência. Nos casos em que são transplantados rins de um indivíduo acabado de morrer, os resultados são igualmente bons: entre 85 % a 90 % funciona bem após 1 ano, e entre 5 % a 8 % deles falha durante cada ano subseqüente. Os rins transplantados funcionam, por vezes, mais de 30 anos. As pessoas com rins transplantados fazem habitualmente uma vida normal e ativa.

O transplante é uma grande cirurgia porque o rim doado deve ser ligado aos vasos sanguíneos e às vias urinárias do receptor. Mais de dois terços de todos os rins são transplantados depois da morte do doador, geralmente um indivíduo saudável que morreu por acidente. Os rins são extirpados, arrefecidos e transportados rapidamente para um centro médico onde sejam transplantados para uma pessoa que tenha um tipo de tecido compatível e cujo soro sanguíneo não contenha anticorpos contra o referido tecido renal.

Apesar do uso de medicamentos supressores do sistema imunitário, costumam verificar-se um ou mais episódios de rejeição pouco depois da intervenção cirúrgica. A rejeição pode implicar retenção de líquidos e, como conseqüência, aumento de peso, febre, dor e inflamação na zona em que tiver sido implantado o rim. As análises de sangue podem mostrar que o funcionamento renal se está a deteriorar. Se os médicos não tiverem a certeza de que se está a verificar uma rejeição, podem efetuar uma biópsia por punção (colher um pequeno fragmento de tecido renal com uma agulha e observá-lo ao microscópio).

Transplante renal

O rim transplantado encontra-se na pelve. Anastomose com a artéria ilíaca, a veia ilíaca e a bexiga. Observem-se os rins pequenos, típicos da insuficiência renal crônica.

A rejeição pode habitualmente ser contrariada aumentando a dose ou o número de fármacos imunodepressores. Se se tornar impossível inverter a rejeição, a transplantação fracassa. O rim rejeitado pode permanecer implantado, a menos que persista a febre, que a zona na qual foi feito o transplante continue dolorosa, que surja sangue na urina ou que a tensão arterial não baixe. Quando a transplantação fracassa, é necessário voltar a iniciar a diálise. Em geral pode fazer-se uma segunda tentativa com outro rim, logo que o doente tenha recuperado do primeiro; as probabilidades de sucesso são quase tão elevadas como no primeiro transplante.

A maioria dos episódios de rejeição e de outras complicações ocorrem num prazo de 3 a 4 meses depois do transplante. Após isso, a menos que os fármacos imunossupressores causem efeitos adversos ou então que se verifique uma grave infecção, o receptor continuará a tomar aqueles fármacos porque se deixar de o fazer, mesmo durante um breve período de tempo, poderá permitir que o corpo rejeite o novo rim. É raro que uma rejeição se verifique depois de várias semanas ou meses. Se assim suceder, a tensão arterial do receptor pode subir, o funcionamento renal deteriora-se e o transplante vai falhando lentamente.

A incidência de cancros nos pacientes para quem se transplantou um rim é de 10 a 15 vezes mais elevada do que nas restantes pessoas. O risco de se desenvolver um cancro do sistema linfático é cerca de 30 vezes maior do que o normal, provavelmente porque o sistema imunitário está inibido.

Depoimento
Marco Antonio de Queiroz (MAQ).
Transplante: O Sonho.

Devido a "complicações crônicas do diabetes", fui perdendo minhas funções renais a partir de 1984. Desde então, para evitar o penoso tratamento da hemodiálise, que consiste em limpar o sangue de uma pessoa através de um filtro físico/químico fora do organismo, cuidei de minha nova deficiência através de regimes, que é o dito "tratamento conservador".

Quando, em outubro de 1995, perdi totalmente as funções renais, comecei o tratamento de hemodiálise, onde presenciei a morte de colegas e o desespero de pessoas que, apesar de fazerem o possível e o impossível para se adaptarem, estavam sempre mal. Mesmo assim, "antes mal que morto"! Sobrevivi orgânica e emocionalmente a esse período com a ajuda de minha esposa Sônia, meu filho Tadzo (nascido em 1988), do meu trabalho que, com a permissão de minhas chefias pude sempre comparecer às seções de hemodiálise, quatro horas e meia, três vezes por semana, sem precisar pedir aposentadoria, que me prejudicaria ainda mais os rendimentos financeiros. A diabetes também não ajudava muito em meu tratamento.

O sonho da maioria dos doentes renais crônicos é o transplante. Ouve-se muitas coisas a respeito de um transplante renal quando estamos em tratamento. Histórias e mais histórias de ex-colegas de sala, de clínica, dos próprios companheiros que, apesar de estarem no tratamento já haviam feito um transplante e, por erro médico, descuido pessoal ou mesmo rejeição orgânica, perderam o rim transplantado e nos contavam suas experiências. Todos esses, porém, não viam a hora de fazerem um re-transplante! O transplante renal é a grande esperança, principalmente daqueles que não conseguem se adaptar bem a esse doloroso tratamento de hemodiálise e mesmo daqueles que se adaptam bem organicamente mas que não suportam a dependência da máquina de filtragem do sangue, a obrigação de vida ou morte de estar sempre ali, naquele dia e horário, para sobreviver.

Aconteceu então, em meados de 1997, que um amigo, também cego, chamado Carlos Augusto Pereira, se ofereceu para doar seu rim para mim e meu sonho começou a disparar para a realização! Fizemos todos os exames necessários, o que, com as consultas médicas etc, etc, etc duraram vários meses e fomos sendo aprovados em todos, até o último e definitivo exame que foi o genético, indicador de nossa compatibilidade orgânica e... o que aparentemente não era mais sonho mas uma expectativa bastante real, desmoronou! Foi um sufoco!

Mas, como tenho os rins virados para a lua, logo após minha grande decepção, outra pessoa também cega, amiga de trabalho, entra lindamente na história... Marilene Lúcia Garcia, com o coração e coragem tão grandes quanto o de Carlos Augusto, ofereceu-se para doar um de seus rins, com o qual vivo bem até hoje e sem o qual Marilene vive também otimamente, sem sentir sua falta!

Depois de mais de um ano de transplantado é que estou começando a achar normal, a me acostumar com a sensação de bem-estar, de saúde, há anos esquecida! Cheguei a pesar 64 quilos e agora estou com 81 quilos, bem mais normal para um sujeito de 1m82cm, certo?
A atitude de Carlos e Marilene é incomum e merece reflexão! A doação de órgãos no Brasil já é difícil mesmo entre parentes consangüíneos, entre pessoas meramente amigas então é muito raro! Portanto, com o consentimento de Marilene, deixarei na página de sua mensagem um meio de você se comunicar com ela e, se for seu caso, tirar toda e qualquer dúvida com relação à sua experiência.

Transplante: A Cirurgia.

Falar e querer fazer um transplante é o comum de alguém que tem essa necessidade. Uma coisa, porém, sempre preocupa: tenho saúde para passar por cirurgia desse porte? Engraçado... Tenho saúde para melhorar de saúde? Normalmente uma cirurgia dessas preocupa, mas a necessidade é tal, as histórias positivas são tantas que a esperança supera o medo.

Cheguei na Casa de Saúde São José dia 16 de setembro de 1998, às 16 horas e na porta
da recepção tentei fumar meu último cigarro, coisa que todos os médicos envolvidos já haviam recomendado, e até exigido, que eu fizesse há muito tempo. Fumei desde meus 11 anos de idade. É um absurdo, mas a mais pura verdade. Largar o cigarro para sempre foi meu primeiro obstáculo a superar e, perturbado com isso, ainda fumei dois cigarros escondido no banheiro do quarto da casa de saúde.

Dois dias antes da internação comecei a tomar os remédios de imunossupressão, com os quais todo transplantado tem de conviver para o resto da vida. Esses remédios diminuem as defesas do corpo com a finalidade de que o rim, geneticamente diferente do resto do organismo e, portanto, estranho ao mesmo, não seja rejeitado. De início, tomamos doses cavalares desses remédios e, com o tempo, vamos diminuindo até chegar a uma dose razoável que nos permita a manutenção do rim e ainda termos alguma resistência, suficiente para superarmos as possíveis agressões do ambiente (uma gripe, por exemplo). Ficamos mais sensíveis e temos de tomar cuidado com isso.

Até dormirmos à noite, Marilene, Sônia e eu conversamos e ficou tudo tranqüilo. Todos os meus pêlos foram raspados da barriga à metade das coxas, dois médicos vieram me ver e examinar e mais nada aconteceu.
Em um transplante, duas equipes de médicos são bastante distintas: a dos urologistas e a dos nefrologistas. Eram 4 médicos de cada equipe, fora o anestesista, imagine como o paciente se sente! Eu, antes de entrar na sala de operação não sabia disso, mas quando com o tempo, no pós-cirúrgico, essa turma ia aparecendo e dizendo: "fiz parte da operação!", comecei a fazer as contas... São duas salas de cirurgia, uma para Marilene, a doadora, outra para mim... Enfim, é tudo em dobro! A turma dos nefrologistas eu já conhecia dos exames preliminares, mas a dos urologistas só um. A operação durou das 7 horas da manhã às 13:30 horas da tarde e tudo foi muito bem. É curioso observar que o novo rim não fica no mesmo lugar dos antigos, que continuam lá sem funcionar, mas é colocado na barriga, bem em baixo! Se um sujeito for querer me dar um soco na altura do rim, se for o que funciona, pode me acertar um órgão errado!

Brincadeiras a parte, acordei entorpecido ao anoitecer já com a notícia que Marilene estava bem, que ela era pequenininha mas que tinha um rinzão enorme, e que este já estava, segundo os exames, fazendo o seu serviço muito bem e todas as taxas de toxidade de meu sangue já estavam diminuindo rapidamente! Só de escrever isso meus olhos se enchem de lágrimas, eu estava fazendo agora uma diálise natural e, se Deus quisesse, a partir dali, 24 horas por dia pelo resto de minha vida! (*) Obrigado Marilene, obrigado! Você me deu saúde, vida, humor. Essa nossa experiência será, para sempre, profunda e inesquecível. Meu coração sempre estará voltado para essa sua atitude!

MAQ.

(*) Quando escrevi esse texto eu não sabia que a duração média de um rim transplantado é de 25 anos, e em um diabético, pelo mesmo motivo pelos quais perdemos o original, pode ser menor ainda. Para manter a saúde adquirida com o rim doado por Marilene, como para parar todos os processos provenientes da diabetes, fiz outro transplante em 2002, o transplante de pâncreas. Atualmente, março de 2006, há mais de 7 anos do transplante renal, ando com uma taxa de creatinina de 1.4 e de uréia de 45. Recomendo a todos os diabéticos que estão fazendo hemodiálise a opção fantástica do transplante duplo (rim/pâncreas).